Antes do derradeiro esforço para rasgar os sistemas dunares que caraterizam o litoral de Esposende e se entregar em definitivo ao mar, o rio Cávado forma um típico estuário atlântico de águas pouco profundas e que, apesar das reduzidas dimensões, da sua localização num meio densamente urbanizado e de estar exposto a diversos fatores de perturbação associados às atividades humanas, alberga um interessante conjunto de habitats naturais e semi-naturais em aceitável estado de conservação e de elevada importância ecológica. Entre estes destacam-se as próprias águas fluviais, os lodaçais a descoberto na maré baixa, os sapais, o prado salgado atlântico com extensos juncais e as pequenas matas aluviais ou galerias ripícolas das margens que, além de alimento abundante, muito procurado pelas aves no seus períodos migratórios e de invernada, ainda lhes proporcionam condições muito favoráveis de acolhimento e abrigo na época de reprodução.
Aves aquáticas:
frisada, marrequinha, arrabio, pato-trombeteiro, zarro-comum, mergulhão-pequeno, mergulhão-de-pescoço-preto, corvo-marinho-de-faces-brancas, garça-branca-pequena, garça-real, colhereiro, águia-pesqueira, borrelho-grande-de-coleira, borrelho-de-coleira-interrompida, tarambola-cinzenta, pilrito-de-bico-comprido, fuselo, maçarico-galego, perna-vermelha-comum, gaivota-de-cabeça-preta, gaivota-parda, andorinha-do-mar-anã, garajau-grande, gaivina-preta, guarda-rios
Grandes aves terrestres:
tartaranhão-dos-pauis, gavião, ógea, falcão-peregrino, bufo-pequeno, coruja-do-nabal, noitibó-europeu
Passeriformes:
calhandrinha-comum, andorinha-das-barreiras, petinha-ribeirinha, alvéola-amarela, ferreirinha-comum, pisco-de-peito-azul, cartaxo-nortenho, cartaxo-comum, chasco-cinzento, rouxinol-bravo, fuinha-dos-juncos, rouxinol-pequeno-dos-caniços, felosa-poliglota, toutinegra-do-mato, papa-amoras, toutinegra-de-barrete, felosa-musical, estrelinha-de-cabeça-listada, papa-moscas-preto, chapim-rabilongo, pega-rabuda, pardal-montês, pintarroxo, dom-fafe, escrevedeira-de-garganta-preta, escrevedeira-dos-caniços
Visita:
Margem sul:
O Parque Natural do Litoral Norte, no qual está inscrita esta zona húmida, também classificada no âmbito da Rede Natura 2000 de Sítio de Importância Comunitária (PTCON0017), está a desenvolver na margem esquerda (sul) condições de visitação que facilitam o acesso pedonal a alguns dos pontos de maior relevância para a observação das aves. Mas comecemos por explorar de manhã bem cedo a avenida marginal de Fão que se projeta desde uma pitoresca galeria ripícola a nascente até à ponte de ferro de estilo “eifeliano”. É nesta zona ribeirinha que abundam os muito conhecidos e fotografados anatídeos ferais e exóticos, alguns dos quais, curiosamente, de espécies com o estatuto de raridade como o cisne-mudo, o ganso-de-faces-brancas ou o pato-ferrugíneo, no entanto, não deveremos ficar surpreendidos se no juncal em frente nos aparecerem entre os primeiros raios de sol espécies mais ilustres como a coruja-do-nabal, o gavião ou o tartaranhão-dos-pauis. Com o apetite aguçado, tomemos a direção de Ofir que se situa a poente da estrada nacional. Após o clube náutico vamos encontrar à direita o início do circuito de passadiços em madeira. Deixemo-nos, então, guiar pelo desenho serpenteante desta passadeira sobrelevada entre um mar de juncos, tantas vezes coroados por alvéolas-amarelas, cartaxos-comuns, fuinhas-dos-juncos ou pintarroxos-comuns. Num instante, a nossa lista atingirá as várias dezenas de aves identificadas. Para tal servem o miradouro e o observatório orientados para as zonas entre-marés. Enquanto se sucedem as espécies de limícolas, e quase sem nos apercebermos dos muitos passos dados, haveremos de chegar à frágil restinga do Cávado, ex-líbris desta área protegida, onde um pequeno núcleo reprodutor de calhandrinha-comum, ano após ano, tem desafiado todas as improbabilidades de sobrevivência. Como forma de diversificarmos os nossos registos, deveremos optar por rematar esta etapa entre os arruamentos interiores do núcleo turístico de Ofir, onde as observações de outras aves, como a estrelinha-de-cabeça-listada, o papa-moscas-preto, o chapim-rabilongo, o chapim-carvoeiro, ou o chapim-real, evocam para a existência passada de uma grande área florestal entretanto substituída pelas moradias ajardinadas que à sombra dos pinheiros caraterizarão o nosso regresso à zona urbana de Fão.
Margem norte:
Cumpridos os primeiros 6 km apeados, as caraterísticas mais artificiais da margem oposta justificam que agora façamos uso do automóvel nas ligações entre alguns dos melhores hotspots para a observação de aves neste estuário. Depois da travessia da ponte de Fão para norte, deveremos virar à esquerda na primeira rotunda e procurar mais adiante uma estrada velha que nos levará novamente até junto da mesma ponte. Sob esta desenvolve-se uma ínsua e alguns bancos de areia em redor que, sobretudo a montante, são frequentados por espécies de patos, gaivotas e pernaltas com maior relevância ecológica. Continuando para jusante, devemos procurar junto a um posto de abastecimento de combustível o caminho em terra batida à esquerda, um pouco exigente para os amortecedores do nosso veículo, mas que constitui o único acesso até à margem. À medida que nos aproximamos novamente da borda de água, envolvidos por campos de cultivo e uma pequena mata ripícola, devemos usar de toda a cautela, pois é habitual registar nestes sapais e lodaçais as mais invulgares surpresas e que normalmente nos ignoram se num primeiro momento evitarmos sair do carro. Num salto em quatro rodas, avançamos daqui até ao parque de estacionamento da doca de pesca, autêntica varanda debruçada sobre o rio que nos oferece a mais ampla panorâmica sobre o canal principal, assiduamente visitado pela águia-pesqueira, a chamada junqueira em frente com os omnipresentes patos-reais, as línguas de areia pejadas de aves aquáticas e um cordão dunar que emoldura todo este quadro. E para encerramento da nossa jornada, deveremos seguir na direção do farol junto à foz. Neste trajeto, além de nos depararmos com motivos de alto interesse cénico, temos uma perspetiva privilegiada sobre um fértil sapal que se estende ao longo da marginal de Esposende e onde poderemos identificar facilmente limícolas mais comuns como o borrelho-grande-de-coleira, a tarambola-cinzenta e o pilrito-comum, ou ainda espécies mais associadas ao meio marinho como o garajau-comum, sem nunca desprezar a possibilidade da aproximação à costa de aves com hábitos mais pelágicos que não raras vezes se intrometem entre as hordas de gaivotas sempre estacionadas no extremo da restinga. É também nos molhes de pedra que aqui se erigiram para conterem a irreverência das águas marinhas que no inverno encontramos a rara petinha-marítima.
Outros biótopos de interesse ecológico no território adjacente:
sistemas dunares, depressões húmidas intra-dunares, mata de pinheiro e folhosas, caniçal da Apúlia, arriba fóssil, recifes e águas marinhas.
Melhor época: sobretudo de Setembro a Janeiro ou ainda em Abril e Maio
Distrito: Braga
Concelho: Esposende
Onde fica: sensivelmente a meio percurso entre Viana do Castelo e a cidade do Porto, da qual dista cerca de 40 km, utilizando a EN 13 ou a A28 (saídas de Fão ou Esposende)